
Criador
Guilherme Corrêa
Guilherme nasceu no Rio de Janeiro, em janeiro de 1980 — no exato limiar entre séculos, sons e sensibilidades. Cresceu entre o mar e as montanhas, mas foi no ar que passou boa parte da juventude: comissário de bordo, voou o mundo por 15 anos, carregando no olhar a memória viva de cada rosto, cada gesto, cada instante que não cabia em palavras. Aos 30, o incômodo. Um chamado antigo. O corpo, inquieto, começou a pedir mais. Arte, talvez. Ou verdade.
Largou tudo e mergulhou nas artes cênicas. Pisou nos palcos. Viveu a pele de outros corpos. E foi ali, entre a luz quente dos refletores e a sombra das coxias, que percebeu: o instante mais sagrado é aquele que escapa. Foi na ópera Carmen, no Theatro Municipal de São Paulo, que ele intuiu — o que buscava não era cena. Era permanência.
Começou então a fotografar. Primeiro com câmeras emprestadas, depois com as próprias mãos afiadas pelo desejo de eternizar. Misturou técnica com impulso, contraluz com coragem, longa exposição com fé. Estudou, abriu estúdio, vendeu imagens. Mas o que ele faz não é “fotografia”. É invocação.
Hoje, Guilherme Corrêa é um dos nomes mais sensíveis e provocadores da fotografia queer. Seu trabalho não busca estética — busca presença. Ele não captura corpos, ele revela templos. E cada retrato é uma oferenda.

Criação
Projeto Nutopia
Nutopia é um projeto artístico e de estética masculina criado por Guilherme Corrêa. Mais do que uma série de ensaios fotográficos, trata-se de uma criação viva, um espaço simbólico onde o corpo masculino é tratado com reverência, liberdade e beleza. Nutopia propõe uma nova forma de olhar para o masculino — não a partir de moldes impostos, mas a partir do que é real, bruto, imperfeito e profundamente humano.
O projeto nasceu da fotografia, da observação sensível do artista diante de corpos diversos, e cresceu ao longo de anos como um acervo que mistura erotismo, contemplação e naturalidade. Homens reais, com marcas, histórias, intensidades distintas, foram sendo registrados não como modelos, mas como presenças únicas. O resultado desse trabalho deu origem a um photobook de arte queer masculina, que circulou em nichos de arte, exposições e coleções particulares, tornando-se uma peça cultuada por quem reconhece o valor da nudez como linguagem e da imagem como rito.
Mas Nutopia não se limita ao livro ou à imagem. Desde sua origem, o projeto carrega em si o desejo de expansão. Ele se transforma, se desdobra e atravessa outras linguagens, outros suportes. Hoje, Nutopia também é uma plataforma de experiências, encontros e oficinas, voltada para quem deseja desenvolver o olhar fotográfico, experimentar novas formas de expressar o corpo e repensar os códigos estéticos do masculino.
O projeto também se materializa em produtos que levam essa sensibilidade para o cotidiano. A linha “one-to-wear” de Nutopia reúne peças como sungas, cuecas e camisetas que nascem do mesmo conceito visual dos ensaios, mas com a proposta de vestir o desejo, prolongar o toque, carregar no corpo os símbolos da arte. Além disso, Nutopia apresenta uma curadoria cuidadosa de itens voltados ao autocuidado masculino — como produtos para pele, barba e cabelo — que reforçam a ideia de que a beleza está também nos detalhes, nos rituais diários e na forma como nos tocamos e nos apresentamos ao mundo.
Nutopia é, acima de tudo, uma criação em movimento. Um projeto que une imagem, produto, experiência e curadoria com o propósito de celebrar o masculino de forma livre, sensual, poética e plural. É uma tentativa de libertar o corpo das amarras do julgamento, da censura e do padrão. Uma proposta que valoriza o toque, o tempo, a presença e a intimidade como fontes legítimas de beleza.

